As autoridades atenienses
acusam Sócrates e exigem uma punição contra ele, mas nem mesmo sabem de que o
acusam. Percebe-se que Sócrates tinha a sabedoria necessária para entender a
ignorância daqueles que o acusavam, ou seja, o importante para seus acusadores
era trabalhar em desfavor ao conhecimento. Para Sócrates discursar ao cidadão
ateniense era uma maneira de transmitir seus conhecimentos tornando estes cidadãos
mais conhecedores de seus direitos. Entende-se que o maior objetivo deste
pensador era mostrar aos atenienses a justiça e o conhecimento social, bem
como, o político, assim fica explícito o seu desejo por justiça quando ele
afirma que a virtude do orador e a do juiz é dizer a verdade. Aqueles que
acusavam eram os mesmos que conduziam às crianças e os jovens a escuridão, mas,
no entanto o acusavam por não compactuar com suas idéias. Significa dizer que
aquele que levará conhecimentos variados aos atenienses era chamado de
criminoso por corromper os jovens segundo seus inimigos de Atenas.
Durante sua defesa pode
ser percebido que os educadores não estavam presentes. Qual seria a razão para
que estes não ouvissem o discurso de Sócrates? Faltaria a estes educadores
palavras para responder a defesa? Sabe-se que o conhecimento sempre incomodou e
continuará incomodando, mesmo Sócrates afirmando que não era sábio, era visível
por todos atenienses que sua sabedoria ia além do conhecimento de todos aqueles
que detinham o poder em Atenas. Pode ser percebida a ironia e a crítica aos
sofistas quando afirma não receber nenhum dinheiro pelos ensinamentos. Ele cita
a conveniência de se receber um pagamento para disseminar aquele que não
conhecer, ou seja, Górgias, Leontino e outros tinham o aval daqueles que o
acusavam. Para Sócrates o crime era cometido por aqueles que cobravam para
ensinar ou discursar de cidade em cidade, isto é, o objetivo maior era o
dinheiro recebido e não o ato de levar a justiça através do conhecimento. A
sabedoria é algo que deva ser cobrado para ser ensinado? Em uma visão sacrifica
não é motivo de orgulho para um sábio comercializar sua sabedoria, apenas os
hipócritas vendem o que pensam que sabe.
O indivíduo busca a
sabedoria e o conhecimento para si e para sua prole, portanto, é confiável
receber o conhecimento daquele que a intitula como sábio e cobra para
transmitir o que acredita se virtude para os cidadãos. Acreditar ser sábio é o
ponto mais alto da ignorância, significa dizer que o ofício do sábio não é disseminar
sabedoria, mas falar aos que detém o conhecimento. Os tolos não dignos de
ouvirem a sabedoria porque eles a irão ignorá-la como se esta fosse a
ignorância. Discursos aos tolos é afirmar ser sábio e aquele que tal propósito
afirma é ignorante. O conhecimento surge com a busca do entendimento de si
mesmo, assim são notáveis que poucos não detentores desta virtude que é o
conhecimento e muitos são os que repudiam o saber. Adquiri o saber é algo que
causa dor e inicialmente desconforto, mas ao romper as entranhas do velho e
aflorar surge o conforto e autoridade a perseguição ao saber. Em toda história
da humanidade houve a perseguição aos sábios e o elogio aos ignorantes. Sabe-se
que a sabedoria é sinônimo de loucura para os desprovidos de conhecimento, portanto,
é compreensível que aja algozes aos sábios e seus seguidores.
Fazer acusações é fácil e
simples para aqueles que são desconhecedores da sabedoria, porém, são os
próprios acusadores que não tem nenhuma preocupação com aqueles que afirmam
defenderem. O individuo que afirma saber o que é melhor para uma nação
certamente é conhecedor de todas as coisas boas
e más, caso contrário, estaria este indivíduo legislando em sua causa
própria. Quando alguém sai em defesa supostamente de uma maioria os interesses
defendidos são de uma minoria. Pode ser percebido que Sócrates não corrompia os
jovens, mas os livrava dos enganadores e impostores que os assediavam. A
injustiça e a acusação infundada nada mais é que o ciúme da sabedoria do
outrem, assim os que acusam acreditam estarem a se defender da própria ignorância.
A sabedoria age como substância corrosiva sobre a ignorância dos súditos,
apenas aqueles que são desconhecedores da própria essência são incapazes de
reconhecer a própria ignorância. A cólera é a sabedoria dos ignorantes,
portanto, estes que estão tomados por tal impulso não admitem um saber maior do
que a própria ignorância. São estes incapazes da observação, da constituição da
dúvida e da estruturação da ideia. A acusação infundada nada mais é, que resposta pronta e acabada, refúgio confortável dos ignorantes.
Quando um sábio discursa
aos sabíeis, suas palavras soam confortáveis e acalentadoras da cólera, mas
quando o ignorante se depara com a sabedoria ou palavras que ouvem, soam
desconfortáveis a ponto de causar náuseas aos impacientes seres da escuridão
platônica, ou seja, segundo Platão o ignorantes vive em uma escuridão, cabe a
tal indivíduo procurar a luz para assim ter o brilho da sabedoria. Ao falar de
sabedoria o indivíduo irá sempre querer saber que foi o sábio entre os homens,
provavelmente não terá resposta. Mas, não há sombra de dúvida que Sócrates foi
o divisor de águas da história do saber, sua sabedoria atravessou milênios e
ainda continua a transformar indivíduos.
Segundo Sócrates deixa-se
viver quando contra vontade vaga-se de cidade em cidade, quando fica
aprisionado sobre os cuidados de um guardião ou quando é impedido de agir e
pensar. Aquele que não tem a liberdade de expressão não será digno da vida, se
o individuo não puder discursar e ouvir discursos não faz sentido viver.
Preferir a morte não parece escolha, mas uma imposição de seus acusadores.
Perante o poder não há possibilidade de exigência ou de escolher viver ou morrer, quando ceifa o mais sublime dos atos que é o ato da reflexão e do
discurso certamente tirante a vida do indivíduo. Silencia um sábio mesmo que
este não o veja assim é pior que lhe tira a vida.
O entretenimento do
ignorante é sacrificar homens sábios já que não podem sacrificar a sabedoria,
assim os homens desprovidos do saber conduzem os sábios à morte. A morte é um
acontecimento inevitável, mas demorado. A maldade é rápida e destruidora
tornando o convívio para a morte mais curta.
Os que
acreditam ser o que não são silencia o homem, mas não cala a sabedoria. O
individuo não morre apenas muda de forma e sua sabedoria transcende todas as
formas e todos os seres, assim caminha Sócrates para a vida e seus acusadores
para a morte, ou seja, apenas os verdadeiros sábios vivem.
Bertoudo
Matos
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